Quem é o público leitor do Substack?
A plataforma que nos últimos três anos foi, pouco a pouco, conquistando os criadores de conteúdo no Brasil tem um perfil mais democrático e variado – mas ainda é uma plateia com peculiaridades!
Faz pouco mais de três anos que comecei – no início, ainda ocasionalmente – a usar esta plataforma. De lá pra cá, muita coisa mudou, na minha e nas newsletters vizinhas: passei de ocasional a semanal (em agosto/22), de hobby a trabalho profissional (em outubro/22), vi nascer tantas publicações que adoro... e infelizmente também vi desaparecerem algumas outras que sinto falta. Mas fato é que a comunidade brasileira cresceu muito, passou a monetizar com mais frequência e, em muitos casos, entendeu que, para si, o Substack era mesmo um hobby de escrita. E tudo bem!
Mas por ser uma plataforma menos social do que muitas das redes às quais fomos habituados, com suas métricas, algoritmos e respostas tão diretas, por vezes quem escreve pode sentir-se na dúvida: com quem (ou para quem) falamos por aqui?! Note que as observações são baseadas apenas na minha experiência, na minha observação e na minha curiosidade nerd que gosta de experimentar tudo que nasce no online há 20 anos... mas acho interessante e válido prestarmos atenção neste público tão peculiar, que nos mostra que nem apenas de vídeos e números estratosféricos se faz uma internet valiosa atualmente.
O leitor do Substack...
• Muitas vezes, ele tem suas próprias newsletters; em mais vezes ainda, está aqui apenas para ler (e até por isto o público que usa apenas o email no lugar do app ainda é maioria).
• Ele não quer milhões de edições de uma mesma publicação – porque em sua grande maioria assina ao menos um punhado delas – nem, MUITO MENOS, uma infinidade de bônus: ele quer entrar aqui e ler, ler sobretudo para desanuviar, para ter o momento recreio que revistas e blogs deram em outras eras. O intuito é oxigenar a mente, não aumentar a já tão extensa "to do list" da produtividade 24/7.
• Por este mesmo motivo, ele, em grande maioria, não quer aprender a fazer oito (dígitos) em sete (dias) nem a ser mais produtivo (a ser menos, talvez?!), porque as outras redes já causaram uma exaustão neste sentido.
• Comprar? De forma sutil, sim, porque esta rede representa em grande parte o poder da curadoria: o produto de beleza, o look, o livro e, ok, até o curso, desde que haja mais contexto do que ~storytelling!
• Está disposto a pagar por (algumas) assinaturas: de algumas publicações, sempre; de outras, em um revezamento. Mas já reconhece a importância de remunerar escritores comprometidos e isentos, que trocaram o digital monetizado pelas marcas pela criação monetizada pelos leitores.
O Substack ainda é uma rede muito pessoal; por aqui mesmo o negócio da monetização precisa ser feito com algum carinho, algum cuidado, alguma sutileza. Não porque é vergonha ou demérito ser ou querer ser remunerado pela escrita, por tantos anos deixada apenas na caixinha do "100% grátis" – mas porque somos pessoas falando com pessoas, humanos querendo ler pontos de vista, aprendizados, vivências ou ideias de outros humanos.
E, por fim, acredite: se você faz parte do bonde que vive a exaustão das redes sociais, saiba que há aqui uma plataforma que já se retroalimenta, por meio das interações, recomendações e indicações.
ATENÇÃO: esta é uma edição extraordinariamente aberta para todos os assinantes, uma forma de que mais pessoas tenham uma degustação do meu trabalho na Amo News. A newsletter é 100% financiada por assinaturas, o que permite um conteúdo isento, livre de amarras comerciais ou parcerias publicitárias. Se ainda não fez o upgrade para a versão completa, recomendo: além de edições semanais, você terá acesso a todas as quase 200 edições, pré-vendas promocionais e editorias especiais para criativos e substackers!
obs. Para comemorar outubro, o mês de aniversário da Amo News como negócio, quem fizer o upgrade para uma assinatura anual até o dia 15/10 exclusivamente por meio do botão abaixo contará com um desconto vitalício (enquanto mantiver ativa a assinatura) de 30% no valor anual atual (de R$ 530 por R$ 370).
Respostas automáticas na era da humanização de marcas
Talvez seja um costume excêntrico, mas... você já passeou pelo site Reclame Aqui?!
Eficiência da plataforma à parte (dizem que as empresas minimamente sérias são super atentas a seus índices por lá), uma coisa que sempre me impressiona é a total falta de humanização mesmo nas respostas corporativas que desejam resolver a questão do consumidor. São textos padrão, copie e cole, que se reproduzem na íntegra seja em um caso de produto não entregue ou funcionário mal educado. A mesma linguagem à la bot que criou o meme da Judite do Fabio Porchat – quando o humorista narra um telefonema no qual fala com uma atendente "robotizada" na hora de cancelar um serviço. Se por voz já é frio, imaginem por texto, uma comunicação sem entonação...!
É pra lá de compreensível que quanto maior a empresa maior a necessidade de se automatizar, criar roteiros, ter os temidos (reais) bots que respondem. Mas se tanto se busca a ideia de "marca humanizada" colocando o fundador pra mostrar a vida no instagram ou um CEO dividindo experiências no Linkedin, qual o sentido de jogar todos estes esforços abaixo com a ideia da marca de interações não humanas?
Em especial em um espaço como o Reclame Aqui, no qual a pessoa já costuma entrar irritada, seria mesmo a melhor estratégia o uso dos textos prontos? A padronização ganha tempo, mas arranha a imagem... em 2024, qual prejuízo pesa mais na conta?
A (mais forte) aposta de tendência de consumo em 2025
No fim do ano passado, uma edição da Amo News mencionou um resumo do famoso relatório da WGSN sobre o consumidor de 2025. 365 dias depois, o outrora distante 2025 está logo ali dobrando a esquina e já é possível cravar a tendência que, entre todas aquelas se mostra mais confirmada e forte.
Você tem sentido um quê de perturbação a respeito do que – e de como – consome? Não me refiro apenas a produtos, mas também a serviços, conteúdos e, de certa forma, até relacionamentos... Uma espécie de questionamento a respeito de por que faz o que faz e/ou o que mais (ou além) poderia fazer? Tudo isto pode nos colocar na previsão do perfil dos Redutores, como fora batizado pela WGSN:
"Redutores: após abraçar a conveniência digital e a vida remota durante a pandemia, esses consumidores querem restabelecer suas conexões com o mundo físico e com as comunidades por meio de um toque humano. (...) Impulsionados por um propósito; focados na comunidade; em busca de conexão. Em um mundo sempre em busca de algo maior, melhor e mais rápido, os Redutores querem interações em uma escala mais humana.", relatório WGSN – O consumidor de 2025
A tendência ainda prevê menos telas e mais laços; menos interações remotas, mais mundo (tangível) de verdade. Ética, sustentabilidade, remunerações justas e modelos de negócio correto entram na pauta. Depois do boom do wellness, os Redutores podem passar a olhar mais para o bem-estar do próximo do que o seu próprio – priorizando gentileza e integridade. Eles ainda rejeitam o consumo em excesso (outra questão que apareceu em uma edição recente por aqui), apoiam o comércio local e valorizam a conexão. Por fim, "precisam ter certeza de que os valores da sua marca são os mesmos que os deles".
Eu gosto – e vejo urgência – desta tendência!
Os tipos de conteúdo no digital...
Para quem trabalha direta ou indiretamente com a internet, pode parecer óbvio; para a grande maioria, não é. Existem sobretudo três tipos de conteúdo online e estes conjuntos não têm interseção entre si: o orgânico, a parceria ou o publieditorial (curiosidade aleatória, a tão repetida palavra "publi" vem do mercado de revistas e se refere a um material publieditorial, no masculino, que é aquele que mistura a publicidade com um conteúdo que remete ao editorial convencional da revista – como uma matéria ou notinha que, embora paga pela marca, simule um texto espontâneo).
Orgânico: o produto (ou serviço) pode ter sido uma compra, um presente da marca, da sua tia ou de um desconhecido; pode ou não ter sido pago por dinheiro do seu bolso. Maaaas... nada atrelava a entrada dele na sua vida a uma obrigatória postagem. Se a pessoa postou, foi quando/como e porque ela quis – jamais porque havia um toma-lá-dá-cá estipulado, ainda que subliminarmente.
Parceria: existe um acordo previamente feito e, no mais puro estilo "o combinado não sai caro", alguém te oferece algo estipulando uma contrapartida – geralmente um post, uma citação. Note a diferença sutil entre esta categoria e a acima (orgânico); em ambos o produto pode ser um "recebido", mas na parceria este recebido está atrelado a uma exibição. Ao contrário do orgânico, que é o realmente ESPONTÂNEO, aqui cabe uma sinalização ao leitor.
Publi: aqui há um negócio propriamente dito (com envolvimento de valores monetários) e, vale pontuar, com o crescimento do marketing de influência, é um mercado que movimenta milhões. Não importa se o criador usa, ama ou venera a marca, não importa se ele postaria (ou já postou) sem receber um real... se houve um contrato financeiro, um cachê, trata-se de um conteúdo publieditorial. E é fundamental que – reforço: ainda que se trate da marca realmente favorita do influencer – o material seja claramente sinalizado como tal.
Se é um (destes três), não é outro!
Verdades inconvenientes sobre o marketing digital
(ou o que tornou-se o marketing digital)
• Se algo valesse – ou tivesse capacidade de ser vendido por – R$ 9.899, a pessoa não te ofertaria o exato mesmo combo por R$ 297: esta é só uma matemática arbitrária que faz parte de um dos módulos lá do curso sobre cursos do moço que ficou milionário fazendo pirâmide educacional.
• Se algo te propõe um resultado numérico específico (ganhar x reais em x meses, perder x quilos em x dias), sem conhecer minimamente a sua história – seu conhecimento, seu ponto de partida, seu estilo de vida, sua genética, seu metabolismo –, acredite, também estão te enganando. E enriquecendo em cima do seu sonho (ou da "sua dor", como eles gostam de chamar).
• Se te falam que, no digital, você pode ganhar dinheiro DO ZERO, sem nenhum conhecimento ou experiência em nada, eles estão trabalhando em cima da sua vulnerabilidade de sentir-se "para trás" (inexperiente, sem bagagem) para enriquecer. Para eles enriquecerem, apenas eles, que fique claro.
• Muitas das imagens de ostentação de peças caras, viagens e luxos de pessoas que ainda estão começando a vender a fórmula da riqueza – e portanto ainda não enganaram gente suficiente para ficarem de fato ricas – são "maquiagens" temporárias construídas de formas absurdas para te encorajar a querer ser como elas. Acredite, tem de tudo: de aluguel de cenário que reproduz interior de jatinho a empréstimos e dívidas. Investimento no ~negócio~, elas diriam.
• Branding não tem nada a ver como vestir uma camisa branca, fazer a pose da mulher maravilha e falar textos pré-produzidos orquestrados por uma pessoa que vende a ideia de consultor de branding. O nome disto é fantasia!
"Marketeiro" (o das aspas mesmo) é o que oferece – só – facilidades; a vida real tem processos, caminhadas e adversidades...
{adaptei a frase de uma amiga que falava de um tema completamente diferente}
Post scriptum: e na próxima semana...
...tem dossiê especial sobre o Rio – lugares, pessoas, modas, notícias, cases e estilo de vida! Exclusivo para assinantes dos planos premium.
(para quem mora, para quem vai conhecer, para quem visita; se tiver alguma pergunta ou dica específica que gostaria de ver, responda a este e-mail.)
p.s. do p.s. o Amo Insiders Online 2024!
E, ainda em outubro, vai ter a edição online do segundo módulo do Amo Insiders, encontro – inicialmente – presencial de conteúdo e networking, que estende e aprofunda o material que você conhece na newsletter.
Tal e qual no ano passado, quando fiz o módulo com o tema Tendências Confirmadas, neste fim de 2024 disponibilizarei inscrições para a versão online do mais recente tema, Conteúdo como Negócio. Eu também sou do time que acredita que nada substitui o ao vivo na vida real, mas, especialmente para quem mora fora do eixo Rio-SP, o online cumpre bem o seu propósito.
Detalhes em breve! E, claro, assinantes dos planos premium da Amo News terão acesso à pré-venda com valor promocional.
o melhor do substack, para mim, é a comunidade que vai se formando em torno das newsletters.
Tenho reparado no alívio que é sentir que não é só publi por trás dos conteúdos.