Para ganhar dinheiro, você precisa pensar em produtos. No plural!
Hobbies à parte, na sua profissão – seja ela qual for – a mente voltada para o mercado valoriza seu talento, traz retornos merecidos e... paga seus boletos.
Rolou no Notes dias atrás uma reflexão sobre os clubes do livro pagos. E, embora eu tenha escrito uma réplica discordando respeitosamente da ideia que ia contra o fato deles serem pagos (vistos, desta forma, como um produto), sou um pouco como um antigo personagem do Jô Soares que mudava de opinião a cada ponto de vista: entendo os dois lados do debate.
De maneira alguma penso em colocar a arte, a escrita e a literatura na mesma prateleira de garrafinhas de leite com marcas e preços distintos. Como bem pontuaram em uma resposta da conversa, "o produto entrega a função, a arte entrega o efeito". Mas nem todo mundo tem uma profissão cujo ganha-pão é tão óbvio como vender garrafinhas de leite ou aulas de matemática. Existem áreas em que o que é dom e o que é produto se misturam – e colocar preço em dom é, para muitos profissionais, até um quê desconfortável, como se parecesse errado.
Note que o "ganhar dinheiro" do título não (necessariamente) se refere a fazer bilhões, a ter sua empresa abrindo IPO na bolsa ou ver sua marca ser comprada por muitos dígitos pelo grupo LVMH – cada um tem uma ambição e tudo bem, não se mede nem se coloca em perspectiva qual o limite do outro. O que aponto é ganhar dinheiro para pagar boletos, um mal necessário da maioria, para viver uma vida confortável e segura, para poder ter paz, equipamentos que ajudam no seu próprio trabalho e, por que não, seus mimos e supérfluos. Não é pecado querer uma vida financeiramente boa, até porque ela inclusive te permite levar coisas boas para outras pessoas também. E o que estou escrevendo está longe de ser óbvio. Como sempre pontuo, especialmente para os criativos.
Seu dom pode até ter nascido com você, mas quanto você estudou, trabalhou e investiu para aperfeiçoá-lo? Quantas noites virou produzindo? De quantas coisas abriu mão para que ele existisse do jeito que é hoje? Dito isto, o que há de errado em ganhar (mais) dinheiro por meio dele? Por que algumas pessoas sentem-se menores ao... vender?
No mercado financeiro, na saúde ou nas artes, ganha quem pensa em produto e não necessariamente "aquele mercenário que só pensa em dinheiro". Entre o capitalismo selvagem tão criticado e o puro amor à arte – algo insustentável para quem não tem renda vitalícia garantida de alguma forma externa – existem muitas possibilidades.
Jamais se esqueça: o que é fácil, óbvio e de certa forma até pouco valorizado em termos de monetização para você pode ser a compra-desejo que ajudará o outro. O ponto de partida de pensar em produto é lembrar-se que você não está vendendo para si próprio, mas sim para outra pessoa que enxerga e encontra muito valor no que você vende.
Última chamada Insiders Rio
O que: um encontro em clima de intimista de networking e (muito!) conteúdo, como se fosse a versão presencial da Amo News ao vivo!
Temas: Tendências confirmadas + Conteúdo como negócio (olhaí um link nada subliminar com o texto de abertura desta edição!)
Quando: dia 6 de agosto de 2024, em única edição carioca do ano
Onde: Lounge MultiVocê, Village Mall, Barra da Tijuca
Detalhes e inscrições: ale.ag/insiders.rio
IMPORTANTE: no momento em que envio esta newsletter, restam três últimas vagas – e, sem papo de escassez, o espaço é realmente limitado fisicamente, não haverá possibilidade de estender a capacidade!
Horizontalização de serviços na saúde
Antes dos criativos, outra área que sofria em encontrar os limites entre o dom/missão e a monetização era a saúde. Como enxergar produtos em um trabalho que cuida de vidas humanas? Mais uma vez, é importante lembrarmos que a abundância financeira permite, inclusive, que se ajude mais a quem não pode pagar. E que, para isto, os produtos monetizados se fazem necessários.
Um case que mostra esta horizontalização de produtos dentro de uma profissão é o da nutricionista Daniela Cyrulin. O fato de oferecer consutas tradicionais não a impede de pensar que há outros tipos de público que – por preferência, por geografia ou por prioridade diferente – optaria por serviços paralelos. E-books temáticos, produtos de alimentação prontos e até consultorias específicas como a de suplementação hoje fazem parte de seu cardápio.
Tudo começou quando, com a agenda enchendo, ela viu que não conseguiria mais preencher por completo sua missão de ajudar pessoas na prevenção e/ou tratamento de saúde apenas pelas consultas: "Me dava até uma angústia de imaginar que a pessoa precisaria esperar seis meses para ter meu atendimento". E foi buscando as maiores queixas ao redor bolou os tais produtos, como questões de menopausa ou síndrome fúngica. Ampliando os horizontes, Dani apenas soma: "É muito comum, depois de consumir ebooks e serviços avulsos, os pacientes voltarem para a consulta também.". Isto sem contar com os orçamentos diferentes de cada cliente – "Nem todos podem ou querem pagar o valor de um acompanhamento individual, que não é barato, os extras democratizam meu conhecimento". A nutricionista tem uma sócia que sempre teve o olhar para o online, o que foi fundamental para este empurrão rumo aos serviços digitais.
E, afinal, é difícil vender produtos fora da linha convencional (consultas, no caso da saúde)?
"A gente tem que abrir a cabeça. Tem muita gente que paga uma consulta apenas por uma necessidade específica, como ajuste de suplementação. Com criatividade, fui buscando como atender estas demandar diferentes. Nem todos precisam do mesmo serviço.".
O mercado que mais vai crescer…
Alguma dúvida de que o mercado 45/50+ está em alta? Nesta semana, um comercial de TV anunciava um novo modelo de ar-condicionado com modo.... menopausa. Tecnologias que não domino à parte, o aparelho teria a capacidade de reconhecer os momentos dos famosos calorões pelos quais muitas mulheres passam à noite, reduzir a temperatura e, ao fim deles, retornar a graus mais altos.
Se e como ele funciona, não posso afirmar. Mas ressalto que veremos cada vez mais marcas, produtos e serviços voltados para o público que mais cresce no mundo. Vivemos mais tempo e a qualidade de vida destes anos a mais será capaz de gerar grandes lucros para empresas atentas.
Vocês já entenderam o jogo da influência?
Conto dois "causos" recentes deste mundo digital: uma influencer internacional faz um instagram em torno de seu veganismo e seu hábito de alimentar-se basicamente com smoothies e sucos. Ela tem uma filha de pouco mais de dois anos que está sempre em seus posts e stories e aparenta não andar ou falar. A cada publicação, uma chuva de comentários de ódio acerca de suas escolhas alimentares e/ou de alertas ao desenvolvimento da criança movimentam seu engajamento. A moça jamais responde de nenhuma maneira, só retorno no dia seguinte com posts que reforçam ainda mais as questões apontadas: sua magreza, sua filha sentada, seus Reels "o que como em um dia". Como um lenhador jogando lenha na fogueira quando as labaredas do dia anterior ainda estão altas.
Corta para outro país, outra influenciadora, outra história. Em dado momento, começou a rolar uma especulação – sabe-se lá de onde – de que seu relacionamento havia chegado ao fim. A princípio, nada indicaria tal fato, mas desde que tudo começou o rapaz nunca mais apareceu diretamente em seus posts como antes. E um ou outro story até solta mensagens que dão margem às duas versões: término ou, a mais provável, continuação normal do relacionamento. Tal e tal o caso anterior, a moça jamais respondeu ou se pronunciou sobre as fofocas, mas sua linha editorial de certa forma fomenta esta curiosidade da base de seguidores.
Não tenho (temos!) nada a ver com a alimentação de uma nem com o namoro da outra, mas um olhar mais atento mostra que a "lenha na fogueira" pode não ser assim tão casual. Quanto mais as pessoas criticam, especulam ou acompanham os perfis – como quem acompanha uma série viciante em busca de próximos capítulos –, mais estas profissionais têm... engajamento. E quanto mais engajamento (para uma in-flu-en-ci-a-do-ra!), melhor. Esta é a moeda que dá valor – e audiência – a quem trabalha em uma espécie de reality digital.
Envolver o público em algum tipo de curiosidade/ódio/fofoca gera curiosidade, views e... vitrine para os publis, conversão para os produtos próprios. E este é o jogo da influência, sorte de quem sabe jogar – porque o público em geral nunca falha na resposta!
A pausa da Adele
A imprensa internacional está com olhos atentos para a recém-anunciada pausa de Adele: a cantora confirmou que planeja um grande parada depois de sua prolongada temporada em Las Vegas – ela completou recentemente 90 shows lotados no teatro com capacidade para 4.000 pessoas, e agora entra em uma turnê na Alemanha que seguirá até novembro.
"Meu tanque está quase vazio agora", declarou para um veículo alemão. "Não tenho planos para novas músicas. (...) Quero uma grande pausa para fazer outras coisas criativas." Declarando-se emocionalmente drenada, por conta da alta energia pessoal envolvida em seu ofício, disse que sente-se mais irritada e impaciente.
Se mesmo uma artista de alto nível e performance, com preparo físico e mental profissionais, sofre os efeitos de ir além da conta... imagine nós, mortais. Pausas (em especial as prolongadas ou sem previsão de volta) são, antes de tudo, privilégios não disponíveis a uma maioria, é claro. Mas entender que um reabastecimento de tanque de alguma forma é uma necessidade humana pode mudar a maneira como levamos nossos trabalhos e rotinas.
Post scriptum: por que usar o Substack via app
Já tem um bom tempo que troquei os e-mails do Substack pela opção de receber publicações assinadas apenas via app da plataforma. Uma espécie de sucessor do Google Reader (quem viveu sabe!), ele reúne todas as suas assinaturas no mesmo lugar e... mantém sua caixa de entrada limpinha. Eu amo ler várias news de uma vez e arquivar cada post depois de lido. Considero de verdade que minha experiência com a ferramenta ganhou um baita upgrade.
Ainda mais usado por escritores de newsletter do que por quem apenas lê/assina, ele ainda concentra um volume interessante de conversas sobre produção criativa na aba Notes. Para instalar e logar já!
Em relação ao debate sobre clube do livro e bilionários, penso que de alguma maneira eles influenciam e despertam o interesse de outras pessoas não-leitoras aos livros. E isso é importante. Sobretudo num mercado (editorial) que vive se debatendo por conta da ausência de hábitos de leitura 🤷🏽♀️
É uma jogada comercial? É! Mas é positivo e todo mundo sai ganhando.
Precisava ler sobre boletos Ale 🧡 obrigada!