O preço de não fazer networking
Ao contrário do que se prega, ser bom de networking não é a única maneira de ter conquistas profissionais; mas é um atalho considerável para quem tem disposição para contatinhos!
Há mais de uma década, eu sou meu único negócio. Um negócio pessoa física, ou EUpresa, como gosto de repetir o que ouvi anos atrás. Sou um negócio pessoa física DTC, sigla que nas startups significa “direto ao consumidor” – quando a empresa vende, sem intermediários, para o cliente final. No caso das startups de produtos, elas geralmente têm um site próprio; no caso da minha humilde empresa, não há produtos físicos, mas um conteúdo que é remunerado por quem o consome (seja na assinatura das newsletters ou nos encontros presenciais).
Explico isto porque ser um negócio pessoa física DTC não é apenas uma escolha, é um resultado de comportamentos assumidos. Em bom português? Sou péssima, nada disposta e com talento perto do zero para o networking. Conheço muitas pessoas – herança de quando trabalhei em outras empresas e era obrigada a circular –; sou conhecida por várias outras. Fiz e faço, sim, alguns trabalhos corporativos. Mas eles são muito mais a exceção do que a regra na minha planilha de faturamento. E tudo isto vem do fato de não frequentar eventos, de não ter nenhuma paciência para enfileirar cafezinhos e de só sair de casa para prestigiar PJs quando/se há alguma pessoa física muito querida envolvida. Mas vem também dos muitos nãos que dei a trabalhos não remunerados, da imagem de pessoa não aberta a publis desde a (minha) era dos blogs de moda, de alguém que cede menos do que os poderosos do mercado gostariam.
Vejam bem, não me faltaria autocrítica para traduzir a falta de algumas oportunidades externas como pouco talento mesmo. Poderia ser. Pode, inclusive, em vários casos. No entanto eu sei que muitos contratos fechados saem de encontros informais, de indicações por afinidade e de uma série de comportamentos que desde muito cedo optei por não ter em minha carreira. Mais do que nunca, se for para trabalhar de graça, será para um veículo independente meu, já escrevi sobre isto. E taí um conceito que pode ser valorizado por uma perspectiva, mas que é extremamente antipatizado por outras tantas.
Eu jamais recomendaria a ninguém em sã consciência pular o networking. Ao contrário. Admiro amigas com bateria social que, mesmo quando introvertidas, encaram este percalço em nome da profissão. É adulto, é maduro, é inteligente. O relacionamento transacional na carreira gera frutos maiores, mais rápidos e mais importantes. Vou além: insisto que você, iniciante ou experiente, jamais siga meu exemplo. O velho “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. É duro ser DTC quando não se é uma startup, quando não se recebe rodadas de investimentos, quando se é apenas uma pessoa física que trabalha com produção criativa. Meu caso não foi (só) escolha, foi o que deu, foi como consegui, foi o que rolou. Amo trabalhar sozinha além da conta e de certa forma tive o privilégio de um airbag de segurança e a sorte de colher frutos mesmo neste caminho mais torto – o que não me fez precisar do airbag, mesmo sabendo que ele estava ali, vale pontuar.
Ao mesmo tempo, é importante dizer que esta também é uma estrada. Talvez exija mais sob certos aspectos, certamente trará algumas contrariedades e até, admitamos, invejinha daquele que “corre com tênis de placa” só porque tem talento e energia para circular, para agradar, para ser uma pessoa de mais sims do que nãos. Eu sinceramente não sei se faria algo diferente se voltasse 20 ou 30 anos no tempo; não sei nem se minha personalidade me daria esta opção. Na ausência dos “e se” irreais, insisto: ser fiel a seu próprio jeito de fazer as coisas também tem lá suas vantagens. E a maior delas é cruzar a linha de chegada mesmo sem o melhor tênis ou o melhor treinador…. Mesmo que com o pace de corrida bem mais alto, a medalha vem para o peito no fim!
Curtinhas da semana: tendência viciados em cancelamento; as escritoras estão na moda; a estratégia do revival que não para de crescer; agora, hora de começar; e… o pré-lançamento do Insiders 2025 para assinantes pagos da Amo News (inscrições prioritárias abertas com 25% off!, link no seu e-mail ou no fim desta edição)!