Amo (Busi)News # 13: a imagem importa...
... e a reinvenção se faz, por vezes, necessária. Um dossiê mensal especial para quem anda repensando a própria imagem e os caminhos profissionais.
(Um parágrafo necessário pré-texto: existe uma pirâmide de possibilidades; o visual não entra em jogo se o físico/saúde não estiver em dia; o físico não consegue ser trabalhado se não houver atenção à saúde mental; a saúde mental não anda pra frente se não houver atenção – e tratamento – às lacunas emocionais. A ordem dos fatores altera o resultado, então não se cobre atalhos ou caminhadas na contramão. Tudo a seu tempo.)
Nunca vi tantas pessoas repensando suas escolhas de trabalho: das crises intergeracionais, que tanto citamos aqui e que têm feito os mais jovens elencarem outros caminhos e prioridades, até pessoas que construíram casas enormes nas plataformas "emprestadas" das redes sociais e hoje se veem às voltas com o algoritmo, muita gente vem questionando carreira, imagem, monetização de dons. Mudando ou não, adaptando-se ou não, o que é importantíssimo e inegável é a necessidade de entender que nossa imagem, nossas ações e nossas atitudes chegam antes. E falam por nós, comunicando o que pensamos sobre nós e o que queremos que o outro pense. O que colheremos, feliz ou infelizmente, estará 100% ligado ao que o outro pensa.
A cena icônica do azul cerúleo, onipresente para explicar do funcionamento de moda à maneira como este mercado é por vezes tido como menor, não foi casualmente escolhida para abrir este especial mensal: "você escolheu este suéter horroroso porque está tentando dizer ao mundo que se leva muito a sério para se importar com o que vai vestir". De fato, no início do filme, a maior intenção da personagem de Anne Hathaway era não ser "uma delas", era ser a menina inteligente e diferente de suas "colegas fúteis". Sem escala de valores, sem certo, sem errado, ela tinha ali uma questão de adequação. Da mesma maneira que não vamos de vestido de festa para a praia ou de biquíni para uma festa black-tie, existem regras de adequação que vão muito além de gostos ou opiniões. Elas transcendem e comunicam o respeito que temos por alguém ou por um ambiente. E antes, bem antes desta ideia, existe o fator que a imagem comunica atributos (e intenções) mesmo que a gente nem se dê conta disto. Para isto, entra o cérebro e sua capacidade de fazer leituras e associações.
"É muito mais fácil ele (o cérebro), instantaneamente, associar uma imagem que ele vê a algo que ele já conhece, do que definir novamente, a cada segundo, o que é cada coisa nova que ele vê. (...) Para o cérebro, percepção é realidade... até que provem (ou não) o contrário.", @detavares, consultora de imagem e psicóloga de formação, nos stories do insta
Achar-se "boa demais para se preocupar com imagem" ou julgar como futilidade pensar no que sua ela – via visual e de atitudes – está comunicando ao redor pode te fazer, na mais básica das possibilidades, perder oportunidades. Pesar a mão nas redes sociais, brigar com a própria sombra ou apresentar-se "de pijama" no escritório serão lidos antes de seu talento, de sua disposição e de seu preparo. Justo ou injusto, precisaremos ir reclamar com o funcionamento natural da mente.
No próprio O Diabo Veste Prada – que assédios morais normalizados do início do século à parte é uma aula de (re)posicionamento –, vemos a personagem principal ganhar autoestima, eficiência e crescimento profissional "apenas" porque adequou-se ao ambiente. E atenção à palavra adequação: não tem a ver com uma regra ou fórmula única, o que serve para uma revista de moda não necessariamente é o mesmo que se aplica (como imagem e postura) em uma startup ou um escritório de advocacia.
Muito mudou no digital nos últimos quatro anos. Mais ainda se estendermos este período para a era do início dos blogs, quando as blogueiras não eram personagens de suas próprias publicações. Do cru (espontâneo) ao perfeito, voltando ao cru, vivemos um pêndulo ininterrupto – e estar atento às mudanças do seu mercado é fundamental no caso de desejar seguir nele. Capacidade de adaptação é fundamental.
Claro que é fácil e raso colocar tudo na mesma prateleira e falar de adaptação de imagem quando tantos mal têm tempo de seguir as obrigações básicas. Não podemos, pelo amor de Deus, ignorar a realidade do país em que vivemos e do quão amplo ele pode ser. Mas muitas pessoas, como o caso de Andy Sachs, optam propositalmente pela inadequação intencional ou por ignorar as mensagens subliminares que comunicamos em cada post, em cada aparição, em cada decisão. E mora aí a resposta para muitas perguntas sobre "por que não avanço" ou por desculpas irreais que culpabilizam sempre o outro.
Feliz ou infelizmente, justa ou injustamente, nossa imagem é nosso primeiro cartão de visita – antes até de diplomas, talentos, soft skills e experiências profissionais. Podem falar diferente e isto pode vir a mudar, mas em 2024 a aparência transmitida ainda importa muito. E por imagem não pense em roupas caras, em tratamentos de beleza ou em ações que exijam um orçamento irreal para tantos; tatuar "adequação" na mente faz-se necessário. De certa forma, somos todos superficiais em algum grau e quando traçamos um paralelo com comprar um presente com embalagem bonita ou embrulhado de qualquer jeito, entendemos que a imagem conta.
A democratização da imagem
Basta navegar pelas principais redes sociais para ver que "glow up" (um upgrade não só de imagem, mas também de postura) tem sido tendência em diferentes classes sociais – vale a busca! Sua imagem é seu cartão de visitas e consultoras como Juliana Lenz, De Tavares e Gabi Ganem têm um rico (e gratuito) conteúdo sobre isto em seus perfis de instagram. Buscar inspirações é sempre um inspirador e valioso ponto de partida, que te permite adaptar ideias a suas possibilidades, a sua realidade e a sua necessidade real.
Abra-se para mudanças. Entenda que, como uma vez pontuou Rohit Bhargava, "ideias são como milhas" – acumulá-las pode nos dar muitas boas "viagens" para postos mais altos. A gente não vai sempre fazer a mesma coisa do mesmo jeito nem pensar sempre as mesmas convicções. E você não precisa de ferramentas, precisa das ideias.
Caminhe rumo a clareza no seu posicionamento para o mundo – pessoal e profissional. Comunique direta e indiretamente o que faz, o que vende, o que entrega, nada é óbvio. Seja fiel a sua essência e a seus valores, conheça seus limites. Entenda que a própria produção de conteúdo muda o tempo todo e, hoje, cada vez mais engloba os mais distintos perfis: há N formas de mostrar a sua cara além daquelas óbvias apresentadas pelos gurus digitais. Não existe só a influencer reality show. Há outras maneiras de se fazer negócios.
Extra: conteúdo 2.0
o que a tendência Tiktok tem a ver com o posicionamento da vez
O sucesso da rede se deve ao fato de que, no geral, seus vídeos não são para vender, não são para dar aula; eles mostram bastidores e contam histórias de um jeito mais leve. Esta própria construção parece um efeito-resposta ao excesso de comercialização do instagram, principalmente nos anos pandêmicos. Em 2024, as marcas estão buscando as pessoas físicas para como aval, ao contrário do que acontecia antes – quando ter o crachá de uma marca era "O" aval para um profissional.
No mais, pense a médio/longo prazo: queremos fazer tudo em um mês enquanto subestimamos o poder de avanço de um plano de um, dois ou até cinco anos. Recolher-se, repensar, recalcular a rota podem fazer milagres em uma trajetória profissional (e, não, você não tem que jogar tudo para o alto para isto, taí uma exceção na qual dá pra trocar o pneu com o carro em movimento!).
Resumo:
1. Entenda onde está, onde quer estar, como é seu ambiente. Muitas vezes a resposta que você procura está no atento olhar ao redor (e interno) que você não dá.
2. Busque e cerque-se de referências. Não apenas as visuais (viva o Pinterest!), mas também de cases inspiradores de seu mercado e de profissionais que, ao menos de longe, estão indo bem. Não para copiar nem muito menos para se colocar abaixo, mas para aprender algo.
3. Cure suas emoções e coloque a saúde em primeiro lugar o máximo que puder. O "resto" seguirá.
4. Não se compare com os sucessos instagramáveis nem se culpe de não parecer "à altura" no Linkedin. Mas também não fique se intoxicando do que te faz mal – nem ache que precisa neste momento entender por que está te fazendo mal. Silenciar e deixar de seguir estão aí pra isto, poupe-se neste momento de recálculo de rota.
5. A imagem importa e não há como lutar contra o cérebro humano, o verdadeiro vilão das percepções nem sempre corretas. Mas, reforço, a adequação é a palavra que fala mais alto nesta equação.
Amei que você trouxe esse tema! Quando comecei a criar conteúdo, eu era 0 ligada à minha aparência. Quantas lives e stories fiz com a mesma brusinha que tinha usado para limpar a casa, com o cabelo cheio de frizz, pois já estava sujo, sem nem um brinquinho para dar um brilho!! Anos depois, quis reciclar os vídeos feitos e quase cavei um buraco para enfiar a cabeça hahaha! O conteúdo era sempre bom, mas a minha aparência estava um terror para o contexto; criar vídeos de venda dos meus produtos. Para mim não funciona fazer uma super produção de terninho, unhas e cílios postiços, sou da pegada mais natural, praticamente uma francesa haha! Da mesma forma que já viro os olhos quando vejo alguma criadora de conteúdo naquela falida estética girlboss. Mas que ser humano gosta de ver o que é bonito, isso é inegável. E por bonito, não estou nem falando em beleza que exclui, nariz fino, harmonização facial, etc, mas uma cara de pessoa saudável e cheirosa, sabe?
Muito legal essa edição, Ale! Já quis negar essa verdade, mas hoje, depois de ter mergulhado fundo em tudo o que você cita no pré-texto, percebo que aceitar as coisas como são e seguir as regras do jogo são pré-requisitos para plantar sementes de tudo que quero ver florir no mundo.