Vulnerabilidade é superpoder?
Do TED de Brené Brown em 2010 às pessoas de 2024 chorando e expondo as mais profundas intimidades em nome do like, muitos mal entendidos acerca do termo podem cobrar um alto preço emocional.
Faz uns dez anos que começou a viralizar em progressão geométrica a apresentação O Poder da Vulnerabilidade, TED que Brené Brown ministrou em 2010 e acabou servindo de pontapé para uma série de livros assinados por ela. Uma década – e meia dezena de best-sellers – depois, dá pra dizer que a teoria inicial foi interpretada e mal-interpretada das mais diferentes maneiras: lá pelas tantas, mostrar-se vulnerável virou até "ativo de marca" ensinado e incentivado por gurus digitais.
Vem provavelmente desta escalada um cenário cada vez mais comum nas mídias sociais. Pessoas de todas as idades, ora por "estratégia" (perdoem-me pelo necessário exagero de aspas neste texto!) ora por incapacidade de medir consequências de suas exposições sem filtros, cruzam a tênue linha do que é ser humano e do que é jogar-se de peito aberto de um penhasco pra lá de alto.
Quando Brené trouxe suas ideias em 2010, ela certamente referia-se muito mais a uma espécie de humanização real do que a este desnudamento coletivo que não mede consequências. São jovens aos prantos narrando términos doloridos e não tão jovens faturando com likes que não colocam na conta o boleto da saúde emocional. Já vivemos o mundo da internet por tempo suficiente para saber que ela pode não ser o espaço mais amigável para o momento da ferida aberta e escancarada, sem direito a band-aid. Expor uma fragilidade sabe-se lá pra quem quando ela está longe de ter sido curada coloca pessoas numa roda-gigante de emoções que podem levá-la ao topo ou (mais) ao fundo, de forma alternada. Teríamos todos esta força? Arrisco-me a apostar que não, não temos.
Quando o mais íntimo torna-se público em nome de uma "imagem de marca" – acabando a sessão-aspas, juro! – que pode ser inclusive lucrativa, passar do ponto é risco iminente. E quase sempre uma estrada sem direito a retorno ou marcha à ré.
Brené, Brené, veja onde viemos parar...
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