Toda a beleza da imperfeição...
... nos tempos instagramáveis perfeitos e fotogênicos, ela pode ser até – quando de fato real – trunfo competitivo valioso para criadores, profissionais e marcas.
Eu vibro com a imperfeição. Cada vez mais. A imperfeição que não tem nada a ver com desleixo profissional ou com o amadorismo pejorativo. Falo daquela que, sim, nos aproxima do interlocutor, que dá um quê de essência humana a uma marca ou pessoa-transformada-em-marca, que traz a tão buscada – e cada vez mais distante, calculada e falsa – humanização de negócio. E, a julgar pelo sucesso do modelo de vídeos do Tiktok e do consumo de conteúdo das novas gerações, o tipo de comunicação que vai crescer cada vez mais.
Uma pessoa com dentes desalinhados que aparece no feed sem que isto afete a mensagem que ela tem a passar – e lembro da Ale do ItGirls, que mal aparecia, mas acabou gastando um "Volvo" na boca por conta de um comentário maldoso sobre seu sorriso imperfeito mais de uma década atrás (e seguiu com questões paralisantes de autoimagem mesmo depois disto). Uma foto mal iluminada. Até, quem diria, aquele texto com um erro bobo de digitação. Não somos inteligência artificial e tem algo em nós que ela jamais substituirá, a imperfeição. "Ah, mas este não é o lado ruim?" Depende!
A internet dos vídeos com equipes de dez pessoas, o maquiador que vai à casa da influencer todas as manhãs e aquela imagem sempre impecável têm seu papel, claro que sim. Foram uma exigência de um mercado que cresceu depressa demais e nos gerou, na paralela, um monte de "ferramentas indispensáveis" - eu mesma, que quase não faço vídeos, já comprei umas quatro ringlights!
Mas prevejo um recuo na tendência que não significará falta de profissionalismo nem muito menos desleixo. É a volta de um quê de amadorismo que aproxima, que humaniza (de verdade, não aquela ~humanização de receita de bolo), que cria conexão. Conexão, a real, palavra da vez para quem tem um negócio.
Que vejamos mais pessoas com dentes desalinhados trazendo boas mensagens, mais gente que não se acha cool demais para um título de livro ou gênero literário, mais profissionais que não fazem pouco de quem está começando e se arriscando do zero na arena.
Depois de tanta imagem impecável em feeds harmônicos, viva o papo que abre uma câmera e conta uma história real; depois de tantas regras, gurus, fórmulas e receitas, viva aquele que vem do nada remando contra a maré em um barquinho de maneira, ousando começar; depois de toda a perfeição nas pessoas físicas que viraram jurídicas e jurídicas que buscam parecer físicas, viva o imperfeito que mostra como somos mais parecidos entre nós do que podemos imaginar. E que aquilo (ou aquele) que nos faz torcer o nariz talvez venha a ser a nossa escolha daqui a pouco tempo. Permitamos-nos a mudança, permitamos-nos também o não mudar nadinha só pra nos encaixar no padrão da vez. Ele, o padrão, muda depressa demais e encaixar-se o tempo todo nele pode ser, no mínimo, pouco saudável.
{Também nesta edição: o consumidor de 2026; os negócios para influenciadores; a simplicidade na criação; paz x polêmica, as duas linhas editoriais no digital.}