Por que você não está faturando com seu conteúdo
O onipresente "seis dígitos em sete dias" é uma falácia que só enriqueceu gurus; as fórmulas de faturamento em publis/newsletters ignoram mil e um fatores. Mas, sim, conteúdo tem valor financeiro!
Não escondo que, desde outubro de 2022, a Amo News é meu trabalho e me rende um salário – como todo trabalho deveria render. Embora tenha decidido não falar mais de números exatos (por entender que eles geram mais comparação irreal do que inspiração real), tenho convicção que, ao menos por enquanto, faturar com newsletter no Brasil ainda é mais exceção do que regra. Mas, ainda assim, depois de algumas semanas observando o mecanismo das redes, percebo que muita gente trabalha muito duro em troca de zero retorno. E, pior, não tem nem mesmo prazer com a produção, apenas vive em torno de uma expectativa que pode jamais se cumprir. Primeiro, por um motivo básico: a maior parte das redes não tem intuito nenhum de remunerar seus criadores. Mas não deve-se ignorar o motivo secundário – muitos criadores queimam a largada, pecam em detalhes e acabam, assim, literalmente deixando dinheiro na mesa.
Já falei em dois textos passados sobre criação & monetização e negócios no Substack (mudei algumas estratégias e desejos que expressava nesta época, mas a maior parte das dicas segue atemporal). Muito do que escrevo aqui acaba, claro, tendo um foco nesta plataforma específica, que é a que escolhi para ser remunerada pelo meu conteúdo. De todo jeito, com adaptações, dá para levar as mesmas ideias para o Insta, o Tiktok, o Youtube ou seja lá a rede principal com a qual você decidiu trabalhar. Apenas tenha em mente: a casa de Mark (a.k.a. insta) é, ao mesmo tempo, a mais popular e democrática (em formatos e em presença de público), mas a MENOS (ou nada) disposta a te trazer retorno financeiro direto.
Dinheiro no insta?
A menos que você seja um empresário com capacidade de escalar – ou seja, que venda principalmente produtos e não horas de serviço, por exemplo – ou um influenciador com tempo, carisma e disposição para atrair publis e produzir conteúdo suficiente para diluir tais publis em um contexto que não te transforme em uma mera vitrine desinteressante, o instagram tem se mostrado o pior lugar para jogar sua energia.
Percebi isto depois de mergulhar no Tiktok, como usuária, e ver como funciona a monetização por lá. Pessoas que viralizam minimamente e/ou têm um volume razoável de conteúdo postado conseguem cifras "simplesmente" em troca de seus materiais.
Claro que as cifras superexpressivas são minoria, mas ao menos dependem exclusivamente dos produtores – no insta, você pode "arrebentar a boca do balão" (difícil, no que depender do empurrãozinho do algoritmo) e, financeiramente, nada vai mudar. E arrisco-me a dizer que isto é um dos motivos que começam a afastar tantas pessoas de lá. Depois que você enxerga o retorno de um vídeo ou de uma newsletter na sua conta bancária, entender a produção de conteúdo como o trabalho que ela realmente é parece um caminho sem volta.
Erros mais comuns em quem deseja monetizar
1. Acreditar no guru digital: ele diz que qualquer um pode fazer fortunas do zero. Sem tempo de estrada, sem público formado, sem especialidade em um tema. E, nesta, quem faz fortuna é ele – te vendendo a suposta fórmula da fortuna do zero. O conceito de fortuna é bastante pessoal, mas qual-quer cifra recebida é resultado de um trabalho de confiança entre você e seu leitor. Houve, sim, um tempo em que qualquer curso online (desde que... barato!) com investimento em tráfego pago vendia quase sozinho. Este tempo se chamava pandemia e ele ficou pra trás deixando inclusive um efeito reverso. Monetizar é um trabalho de formiguinha (salvo raríssimas exceções) e começar em 2024 pela(s) rede(s) que menos incentiva a remuneração pode não ser a melhor pedida.
2. Conteúdos pago e gratuito iguais: esta é uma tecla na qual já bato há tempos quando falo de monetização de Substack. O brasileiro já não tem o hábito de pagar para ler conteúdo independente. A ideia do "apoio", que existe nos EUA, não rola por aqui. Com cada vez mais pessoas fazendo conteúdos exclusivos pagos, a priorização (na hora de assinar) será destas contas. Para vender textos, você precisa ter textos pagos.
3. Querer ser lido por mais gente: tenho visto muito por aqui, em contas brasileiras e gringas. O escritor fecha – parcial ou integralmente – sua newsletter. Mas digamos que ele tem 1.000 assinantes gratuitos e, sei lá, dez pagos. Ao sentir-se incomodado por produzir para "apenas" dez pessoas, acaba cedendo e reabrindo a íntegra do conteúdo. Lembre-se sempre que "mais vale um leitor na íntegra na mão do que 1.000 'só de passagem' voando"! Capriche, insista e cuide com carinho dos seus dois, cinco ou dez leitores pagos: eles são os verdadeiros incentivadores que acreditam no que você está fazendo.
4. Falta de consistência: assino o plano pago anual de uma news gringa que já mudou de nome (de tema, de foco e de formato) TRÊS vezes desde que ela me atraiu em agosto passado com um post fechado interessante – detalhe: hoje, ela passou a ser aberta para pagantes e não pagantes. Deixar o leitor perdido, sem saber o que, quanto ou como vai ler, dificulta a formação do público. Um posicionamento claro, no entanto, ajuda.
5. Apostar demais em terrenos que não te pagam nada: "ahhh, mas é difícil viralizar e monetizar no Tiktok"; "ahhh, mas poucas pessoas pagam por newsletters no Brasil" (dependendo do seu público, nem tão poucas, viu!)... Deixar-se levar por estas ideias – e seguir jogando toda sua energia em redes sem previsão de remuneração –, te afasta mais ainda de conseguir retorno por seu trabalho de produção.
6. Não ver valor no que está vendendo: parece óbvio, mas não é. Você sentiria vontade de comprar aquilo que esta vendendo? Seja um curso, uma assinatura de newsletter, um produto de publi... sem acreditar e sentir vontade real de consumir o que está sendo vendido, dificilmente sua "oferta" convencerá alguém. Não tem fórmula ou storytelling que salve esta lacuna!