Odeio networking...
... mas adoro (e acredito n)a arte de criar e construir relacionamentos de maneira natural, genuína e espontânea!
Eu brinco que sou a introvertida que mais conhece gente no mundo. Penso até que, com esta bagagem social, eu poderia ser ótima de networking. Alguns inclusive (acho) pensam que sou – mais de uma vez respondi a entrevistas ou pesquisas enviadas por pessoas que pareciam supor que este era um talento meu. Nunca neguei em meus conteúdos que a tal da rede de contatos bem gerenciada e alimentada é um baita ativo, um grande encurtador de caminhos em múltiplas áreas. Mas taí algo que não é minha praia.
(e, em 2025, falar isto em alto e bom som deve ser o equivalente a admitir em uma entrevista de emprego que odeia trabalhar em equipe – o que também é meu caso!)
Lembro – com certo trauma – de um jantar-surpresa de networking no qual já me vi inserida. Eu tinha acabado de me mudar para São Paulo e uma conhecida do Rio que estava passando uns dias por aqui sugeriu que fossemos jantar. Cheguei lá entendendo que eu jantaria com ela e me deparei com uma mesa de uns 20 lugares. Ninguém conhecia ninguém (e creio que todo mundo estava na mesma que eu, tendo um chá-revelação de tipo de evento). A organizadora, uma phd em tecer redes de contatos, ia apresentando uns aos outros com o aposto mais fotogênico e valorizador de passe possível: “fulano é dono da xyz, beltrano trabalha no cargo tal da empresa tal, venha aqui conhecer a editora da revista xpto”, ela transitava com muita naturalidade. Não é que tenha sido uma ocasião ruim, mas com certeza é um tipo de evento que jamais me tiraria de casa numa numa noite depois de um longo dia de trabalho. E com certeza eu poderia ter tirado maior proveito daqueles novos contatos se esta fosse a minha praia. Poderia e, talvez, deveria.
Vejo muita, muita gente que nunca foi boa no próprio ofício acumulando empregos, clientes, viagens, benefícios apenas porque faz este jogo. E jamais diria que estão errados. Se um superpoder eu pudesse pedir, provavelmente seria o talento para a conversa fiada, para passar de festa em festa, de evento em evento, de papo em papo. Mas estar em algum lugar com pessoas com quem não tenho intimidade sem uma razão específica – como ouvir uma palestra – me dá calafrios. Especialmente porque o networking ao qual me refiro aqui é aquele premeditado, planilhado, ensaiado.
Na contramão dos networkers (???) profissionais, existem pessoas que simplesmente ocupam seus espaços de forma gentil, presente e atenciosa. Gente que simplesmente está por inteiro desempenhando uma função e/ou é naturalmente simpática e com bom papo em lugares aleatórios. É a mãe da criança que brinca com minha filha na piscina e não precisa nem dizer o que faz da vida, apenas conversa com naturalidade sobre temas atuais interessantes; é o professor fixo da sala de musculação da academia que não fica parado cumprindo horário, mas circula pelo ambiente com atenção corrigindo, ajudando e cumprimentando quem está em volta (foi assim que eu, que normalmente entrava muda e saía calada, escolhi um personal).
É sutil a diferença. Mas, em um mundo cada vez mais profissional e intencional em todas as esferas, é um sopro de ar fresco interagir com gente que é legal apenas por ser legal. Gente que não quer te provar nada, que não quer dar carteirada, que não quer tirar alguma vantagem direta daquela interação. Gente que relaxa, que escuta, que se interessa. Gente que tem dois ouvidos e uma boca.
Quando me pergunto como, sendo tão introvertida, consegui conhecer tanta gente na vida, levo um tempo, mas logo concluo: tive e tenho a sorte de cruzar com muitas pessoas que podem até parecer networkers, mas no fundo são só gente genuinamente legal, espontânea e interessante. De longe, talvez possa parecer a mesma coisa, mas de perto… ahh, que diferença!