Obrigada, bem-vindo(a), até logo...
Uma autora inglesa que pede para leitores se descadastrarem de sua news, uma relação mais saudável com o trabalho, um agradecimento: é hora da organização de ano novo!
Sendo esta a última edição aberta de 2023 e também a última Amo News (garantidamente) aberta de um formato que existiu por um ano e dois meses, eu não poderia começar de outra forma que não agradecendo. Muito. Cada um de vocês aqui, assinantes pagos ou gratuitos, me provaram que – contra muitos discursos de experts – ainda há espaço para formas de comunicação que vão além dos vídeos rápidos e das legendas curtas.
Ter visto tantos de vocês virando "vizinhos de Substack" e/ou me dizendo que meus posts sobre o modelo de negócios os ajudou de alguma forma a monetizar seus dons... como isto me fez feliz e me alimentou a alma. Quem trabalha com escrita, por muito tempo, teve a tendência de não enxergar seu dom como trabalho; seu trabalho como um merecimento de remuneração. Como já pontuei algumas vezes, o marketing de conteúdo (aquele no qual usamos o conteúdo como vitrine de nossos produtos, serviços e negócios) é excelente, mas deixa em um lugar complicado aquele que tem o próprio conteúdo como produto.
Também já devo ter mencionado por aqui como minha relação com trabalho mudou nos últimos dois anos (obrigada, terapia!): antes, só enxergava como trabalho aquilo que era baseado em "sangue, suor e – muitas – lágrimas"; o ofício leve, gostoso e natural (como escrever esta news semanal) era "fácil" demais para ser considerado trabalho. Eu ousava dizer que estava em pausa profissional quando desempenhava tarefas como esta. Pois, afinal, foi assim que minha geração aprendeu. Foi assim que minha geração julgou (e julga) os mais jovens que não estão dispostos a topar tudo por dinheiro e também os que encontraram outras formas de trabalhar.
O que posso dizer pra você que tem um trabalho criativo é que ainda há espaços, oportunidades e nichos não preenchidos. Seja na rede que for, no formato que for. E que se eu puder te ajudar de alguma forma, conte comigo – não é fácil, não existe este papo de que dá pra construir um público do zero sem esforço e é irreal a ideia que ignora o caminho percorrido antes dos resultados. Mas o mesmo que já acontece em alguns países vai acontecer no Brasil: o conteúdo independente (de anúncios, de algoritmos e de concorrência desleal) é cada vez mais valorizado. Financeiramente falando, inclusive.
Sei que nem todos os que aqui me leem trabalham diretamente com escrita, conteúdo ou criatividade. Mas sei também que muitos se encaixam ou vão se encaixar neste mercado. Todo mundo está no Instagram, o Tiktok vende até "areia no deserto" e até o polêmico Twitter/X tem mais movimento que uma rede de newsletters ou um blog independente. Mas nem sempre quantidade significa conversão: quem te segue te acompanha ou é somente mais um número no contador?
Ao longo de 2023, falamos muitas vezes de tendências já em alta como comunidades, jornalismo independente, a crise das redes digitais, o ceticismo do leitor, o perigo dos coaches gurus que te vendem a ideia de fazer dezenove digitos em dezenove horas. O incômodo da comparação gerada pelas mídias mais famosas, nas quais, não importa o que a gente conquiste, a gente sempre vai se sentir em débito, atrás na fila, fracassando. As pirâmides – de produtos, de marcas, de cursos, de jogos – que prejudicaram tantas pessoas e agora finalmente começam a ser desmascaras. O perigo dos profissionais não profissionais te guiando mentalmente, financeiramente, emocionalmente, fisicamente. Em 2024, vejo um novo começo de era (Poliana? Talvez!): as pessoas que falam com pessoas, a volta da teoria da cauda longa (vale o Google, caso não conheça!), os influenciadores espontâneos, o espaço para a gente fazer nossa curadoria e decidir quem e o que vai consumir de verdade.
Não dá tempo de ler tudo. É impossível ser tudo pra todos. E EUpresas e criadores têm uma limitação física de escala de negócio. Nesta semana, repostei um texto cujo título era "por favor, se descadastre da minha newsletter". A autora explicava que não se tratava de um "suicídio de newsletter", mas sim de um convite para se experimentar a liberdade de ter uma caixa de entrada apenas com as coisas que você realmente quer. E que ela, como autora, desejava seguir sua jornada de Substack com aqueles que realmente queriam estar ali.
Nem todos os conteúdos são (interessantes) pra todo mundo – aí de novo a ideia da cauda longa – e a falsa impressão do conteúdo "gratuito" que nos faz seguir 6.000 perfis de insta, comprar 18 cursos no Hotmart e assinar 160 newsletters de Substack não é saudável pra ninguém. Leva ao burnout (porque a vida real tem muito mais coisas do que Instagram, Substack e afins), estende a sensação de FOMO e ansiedade, nos coloca na rodinha do hamster até em algo que era pra ser só prazeroso. Você não merece isto. Não nesta era em que tanto falamos sobre saúde mental e emocional.
Saúde é escolher, saúde é abrir mão, saúde é deixar ir – nem que seja pra voltar logo adiante. E em 2024 eu quero saúde pra mim e pra você. Sem FOMO, com decisão e consciência, com clareza de prioridades. Sem ressentimentos, sem ego, sem imaturidade; sem levar pro pessoal. Entendendo que o que é sempre muito útil para a pessoa A é eventualmente útil para a pessoa B e não exatamente prioritário para a pessoa C.
A Amo News (em) 2024
A Amo News me deu mais do que um trabalho neste ano. Ela me trouxe uma nova maneira de lidar com trabalho, de enxergar meus talentos, de conhecer quem realmente me lê (às vezes há tantos anos que eu queria ir pessoalmente dar um abraço de agradecimento). Digo muito, muito obrigada a cada assinatura, a cada mensagem, a cada upgrade, a cada recomendação, a cada comentário. A news que nasceu no que seria um momento de pausar e repensar virou Zoom, virou evento presencial, virou palestra corporativa. Talvez tenha desapontado quem acha que virou "negócio demais", mas surpreendi quem viu que não é errado tratar talento como negócio. É assim que fazem as pessoas de tantas profissões, por que não nas nossas?
Trechos e edições ocasionais seguirão existindo no novo ano, mas o foco central será a Amo News Premium, que reúne apenas algumas centenas de pessoas mais envolvidas com o conteúdo semanal, com os dossiês nos quais conto com minha agenda de contatos pessoais para trazer gente interessante, com a proposta de receber um apanhado de tendências atuais comentadas para quem não precisa de relatórios bojudos internacionais nem assinaturas de materiais super extensos em inglês, mas que gosta de uma pincelada geral pelo mundo dos comportamentos online e offline mais em alta.
De tudo que aprendi em 2023, diria que uma confirmação é muito forte: a gente não pode estar em todas as redes, em todos os perfis, em todas as possibilidades de conteúdo (produzindo ou consumindo); a gente também não vai atender as expectativas e necessidades de todo mundo. E esta compreensão liberta – a mim e a você!