Este não é (mais) um texto sobre consistência...
... mas a lembrança de algo que fiz 12 anos atrás me trouxe a resposta de muitas colheitas profissionais e financeiras que tive e tenho: eu só não desisti!
Quando eu deixei 60 posts programados de "licença maternidade"…
… e como – vejo agora – isto impactou cada colheita que tive na vida: porque, clichê ou não, consistência e quantidade valem, sim, mais do que o foco extremo na qualidade perfeita que tanto buscamos hoje.
Diz o ditado que o modo que a gente faz uma coisa é o modo que a gente faz todas as coisas. E eu acho que é verdade: eu só tenho dois extremos – não fazer ou fazer com toda a energia e dedicação do meu corpo, muitas vezes sem nem entender por que estou fazendo.
Com o 12º aniversário da minha filha neste fim de semana, lembrei-me de como era minha existência digital em 3 de maio de 2013. O antes, o durante, o depois.
Nesta época eu tinha um blog. Um blog muito diferente em todos os aspectos do blog que eu havia encerrado quase três anos antes. Se o ItGirls (2007-2010) foi um dos maiores de seu tempo e viveu o início do boom das blogueiras de moda, a versão da minha existência digital em 2013 era infinitamente mais modesta, menos profissional, nada nichada: eu tinha uma página cuja url era meu nome e na qual eu escrevia sobre qualquer tema que cruzasse minha cabeça (e quem acompanha meu trabalho em qualquer fase pode supor que muitos temas costumam cruzar minha cabeça). Amadora com A maiúsculo.
Sempre precisei escrever. Ser lida, claro, era um bônus valioso, mas eu escrevia e escrevo porque senão eu engasgo. Com todo respeito ao tempo de quem me lê, eu preciso admitir com sinceridade que é mais por mim mesma do que por qualquer outra pessoa. Uma necessidade visceral que nem sei bem explicar.
Aí eu engravidei. Não estava trabalhando, vivi uma pausa profissional neste período da minha vida. Mas tinha o tal blog com meu nome. E o que fiz quando a data do parto foi se aproximando? Sessenta posts. Sessenta. Inéditos, variados, pesquisados, ilustrados, completos. Depois programei um a um para maio e junho (minha gravidez completaria 40 semanas em 5/5, MH chegou dois dias antes disto). Eu deixei agendado um post por dia nos dois meses que duraram minha licença maternidade.
O que é importante dividir: eu não tinha uma mega audiência, eu não tinha nenhum compromisso comercial com ninguém, eu NÃO PRECISAVA fazer aquilo. Muito provavelmente, se eu sumisse por dois meses, a maioria nem ia pereceber. Hoje, inclusive, naqueles mesmos moldes, tenho lá minhas dúvidas se eu teria o mesmo empenho. Mas, lá atrás, em 2013, eu tive. O blog amador que não me rendia um real não ficou um único dia sem ser alimentado enquanto eu me concentrava em alimentar minha bebê recém-nascida. Tudo porque eu produzi, nos meus meses finais de gravidez, (o que hoje vejo como) um volume enorme de material em forma de conteúdo prontinho.
Não havia chefe, não havia contratante, não havia nem muito mais do que um punhado de leitores. Mas eu, por alguma razão, agi com o mesmo comprometimento que teria se estivesse sendo paga, observada, avaliada e cobrada por uma verdadeira multidão.
Por que eu resolvi lembrar e contar esta história agora? Porque quando eu fiz isto eu nem me dava conta, mas estava, de alguma forma, treinando um músculo importante – e subestimado nestes tempos dos virais e das fórmulas de resultados rápidos.
O músculo da consistência, da insistência, da responsabilidade com o que eu mesma me propunha a fazer. É este músculo que me ajuda a seguir quando o contador do instagram despenca, quando o ranking do Substack me lembra que todo dia surge gente muito melhor do que eu, quando eu desanimo por não ter o resultado que esperava em algum projeto. É este mesmo músculo que me mantém forte para furar as ondas revoltas que o trabalho criativo põe na nossa travessia e me surpreender com uma ilha cheia de frutos logo na sequência. É o músculo que quase todos os dias me ajuda a lembrar que meu propósito precisa ser maior do que meu ego se eu quiser continuar fazendo o que gosto e sei fazer, independente de como estarei em comparação com outros e até com meu eu do passado. É, por fim, o músculo que me faz comparecer com ou sem vontade, com ou sem ânimo, com ou sem tempo.
A gente não entende tãããão bem a importância do músculo quando está criando-o – na sala de musculação ou na criação de um trabalho –, mas, lá adiante, quando ele mais se faz necessário, é a ele que seremos gratos.
Não defendo a insistência sobre todas as coisas; mas sou terminamentemente contra a desistência quando trata-se de algo que, mais do que tudo, move nossa alma!
Em tempo: estava com esta edição quase pronta quando me deparei com esta nota abaixo da sobre um trecho do livro Arte e Medo que eu já conhecia e amava. Foi a deixa para comprar o livro e usar a nota para fechar este texto que mostra que a qualidade perfeita é superestimada em relação ao tão importante ato de comparecer múltiplas vezes naquilo a que nos propomos.
p.s. Metade das newsletters não passa da segunda edição – e com certeza esta estatística pode ser levada para qualquer outro mercado, em especial os criativos e/ou os que envolvem plateia. Não teria sido o naufrágio apenas uma questão de alta expectativa e baixa insistência?
Conselhos sobre Substack para minha filha
Entre as conquistas de completar 12 anos, liberei que Maria Helena criasse sua newsletter quando quisesse; o que disse a ela pode servir para mais pessoas!