Estamos precisando de hobbies – não monetizáveis!
O texto de introdução desta edição é aberto por um motivo óbvio: escrever é meu trabalho, mas também meu hobby. E eu sei o quanto é desafiador para nós, criativos, saber o que vai em cada caixinha...
Há uns bons dois anos, metade das minhas conversas com minha amiga-vizinha de rede
gira em torno da nossa (falta de) capacidade de ter um hobby, uma paixão que não se transforme de jeito nenhum em trabalho. Se pessoas se unem por características em comum, posso dizer que eu e Tati nos tornamos "amigas íntimas separadas por um oceano" por conta de um looping que funciona mais ou menos assim: gosto disto; mergulho neste assunto; oba, um hobby; bora monetizar o hobby. E é assim que muitas paixões foram se transformando em obrigação – e nervosal – pelo caminho.Exatamente por este motivo, lembrei da Tati (de mim mesma, de tantos de nós...!) na hora em que li o último texto de outra Tati, a
:"O problema é que ouvimos vezes demais aquela frase cretina que diz 'trabalhe com o que você ama e nunca precisará trabalhar na vida'. O resultado é uma geração inteira que passou a odiar o que antes amava, tem crises de ansiedade domingo à noite, não tira cartelinha de Rivotril da carteira e agradece a indústria farmacêutica por ter inventado o sublingual. E os hobbies? Não sabemos mais o que é isso.", Tati Guedes
Esta própria newsletter que você aqui lê – e, muitos de vocês, pagam por ela –, origem central do meu trabalho hoje, nasceu quando encerrei minha Amo Branding e quis ter me dar um tempo sabático fazendo algo que amava (a versão hobby durou dois meses!); a Amo Branding, marca que foi meu negócio por sete anos sobre um tema que, ao fim deste período, eu não aguentava mais ouvir o nome, surgiu de um post despretensioso em um blog-hobby em 2014, que rendeu um convite (pago, claro) para uma palestra sobre o assunto em Belém. Nada diferente do ItGirls, blog que criei para "falar só do que eu REALMENTE gostava", ao contrário do que acontecia no meu (então) trabalho da vida real em revistas: quem podia imaginar, em 2007, que blog um dia ia virar trabalho e blogueira, profissão? Até o destino parece me pregar peças e colaborar nesta minha mania de colocar responsabilidade nas minhas paixões...
Não há, aqui, nenhuma reclamação. É um prazer poder monetizar um dom – ao menos por uns tempos, talvez! Mas hobby e trabalho não rimam. E na era do "trabalhe enquanto os outros dormem" (pânico, pânico desta frase), mais do que nunca, a gente precisa não apenas dormir, mas também parar de trabalhar. Fechar o computador, a planilha de metas, o caderno de ideias profissionais. E simplesmente deleitar-se com algo que não vai nem quer nos levar a canto algum. Algo que tenha começo, meio e fim em seu (não) propósito. Algo que nos permita aquele momento de introversão, característica também conhecida como a reposição de bateria dos criativos.
Na dúvida, como comentei lá no post da Tati Guedes, coloquei a academia como meu hobby da vez. Vou pra me cuidar, mas também pra me isolar, pra me distrair, para esvaziar a cabeça ouvindo músicas no modo aleatório e no volume máximo. Porque, ao menos ali – acho eu! – não existe o menor risco de eu inventar nada pra profissionalizar e monetizar.
obs. parágrafo válido até o momento de eu inventar a moda de me matricular na faculdade de educação física! Brincadeira, taí uma coisa que nunca vai acontecer.
{Também nesta edição: como são os adultos do Tiktok; o mais é mais nas tendências de beleza em 2024; o direito de passear pelas redes sociais sem sentir-se em um shopping de produtos e o Business of Fashion confirmando o modelo de assinaturas como a bola da vez no conteúdo digital.}