Dê-se uma folguinha!
Um texto pra você, pra ele(s) e pra mim mesma: às vezes a gente precisa daquele lembrete de que tudo bem pegar mais leve com sua própria lista de afazeres...
E vai ter Zoom para assinantes premium neste sábado (24.06), um repeteco do que fizemos em março: como construir e monetizar seu Substack. Não entendam como fórmula de números, de estratégias ou coisa do tipo – o intuito é ajudar quem usa a plataforma a fazer bonitinho e, se quiser, enxergá-la como um trabalho. Vem papear ao vivo comigo, o link está no fim desta edição!
Importante: o encontro online ao vivo é um bônus extra, além dos oficialmente oferecidos nas assinaturas pagas. Tal e qual o de março, esta edição será para todos os assinantes pagos, de todos os planos. A partir do segundo semestre, o bônus dos Zooms temáticos (2x/ano no mínimo) passa a ser exclusivo dos planos anuais, combinado?
A quantas anda sua lista de afazeres? Ela te organiza, te liberta ou te traz (mais) ansiedade? Já começo este texto com uma espécie de disclaimer – te dedico,
! – de que não sugiro aqui que ninguém seja irresponsável, fuja do emprego ou brinque com o próprio sustento. Refiro-me ao que nós mesmos estamos nos impondo, um modelo de benchmarking que mistura a capacidade de malhar da influencer fitness, a habilidade de lidar com dinheiro da influencer de finanças, a disposição de se maquiar e montar bons looks das influencers de beleza e moda, a paciência de estar e interagir no Insta, no Linkedin e até nos grupos de Facebook. Ou, em exemplos menos instagramáveis, ao desejo irracional de estar em mais cafés, projetos, eventos, planos, metas e objetivos do que qualquer ser humano poderia dar conta.Imagino que o calo de cada um aperte mais de um lado diferente: estudos intermináveis, rotinas corporativas competitivas, presença digital exaustiva, desenvolvimento pessoal que parece uma gincana sem linha de chegada à vista. Mas tá todo mundo meio exausto pelo que além da conta impõe a si mesmo!
Minhas ambições e metas existem, mas – mais uma vez, falando do que vem depois da sobrevivência garantida – elas não estão acima de ficar com a minha filha sem checar as mensagens no celular, de ler meus livros favoritos todas as noites sem desmaiar antes na cama, de ter tempo de escrever algo diferentes de trabalho nos meus cadernos com canetas coloridas. Dá pra buscar evolução, na carreira, na produtividade e na vida, sem precisar parar de respirar mirando a perfeição. Nem sempre vai sair aquele texto, aquele resultado, aquele retorno. Quase nunca vai estar ótimo sob o seu critério de (auto)avaliação. Com frequência vai faltar: prazo, criatividade, tempo. Mas apareça, no ritmo que der, mesmo assim. Já temos o turbilhão de tarefas além daquelas das quais não podemos fugir e só cada um sabe da sua própria lista.
As consequências deste estilo de vida adoecedor não são mais uma projeção futura, já estão aí nos recordes de medicamentos, nos números de questões mentais. Como ouvi em um curso livre de nutrição que estou fazendo, até "a saúde é uma jornada; não transforme esta busca em mais um estresse pra você". Pois bem, troque a palavra "saúde" por qualquer outra que esteja na sua tal lista de afazeres e... dê-se uma folguinha!
#NoSubstack: depois de já estar com este texto pronto para o envio, li a news da
por indicação do ótimo giro da no Notes e... acho que estamos todos precisando nos dar mais folguinhas!POR OUTRO LADO...
Revival: Não, não se deslumbre! Mas jamais perca o encantamento...
Trecho de texto escrito e publicado em meu antigo blog em 18/03/14 (porque deu vontade de trazer pra cá!)
Eu era a segunda pessoa na hierarquia de um veículo de jornalismo prestigiado em seu segmento. (...) Havia um evento a ser coberto. Uma das pessoas da equipe deveria ir até uma faculdade ouvir a palestra de uma importante figura internacional da moda. (...) foi um “foge daqui, foge de lá” imediato entre todos na redação. Minha chefe então me designou – leia-se sutilmente me ordenou! – a tarefa. Eu, naquela imaturidade mimada, amarrei a maior tromba do mundo. Me fiz de injustiçada (por que eu?!), me senti desprestigiada (por que não o fulano, que nunca vai em nada?!), fiquei mal-humorada e fui. (...) Ainda estava internamente contrariada quando a palestra começou (...) e foi então que me deu o estalo: meu Deus, em que momento eu perdi o encantamento com as coisas bacanas que minha profissão me oferece? A mesma Ale, uns poucos anos antes, pagaria o que pudesse para estar em uma oportunidade daquelas, ouvindo aquele cara falar aquelas palavras. (...) Me dei conta que tinha ido do “uau, que emprego maravilhoso que me dá essas oportunidades maravilhosas” ao “que saco, por que tenho que fazer isso?”, quase que sem escalas nos “nossa, bacana”, “tudo bem, eu posso ir”. (...) Muitas vezes, por conta de um descontentamento x ou y, por uma acomodação ou até por uma banalização do que outrora fora um luxo, acabamos caindo nessa armadilha: tratar como dever de casa chato o que sempre foi um prêmio. (...) Eu sempre digo que não há nada mais feio do que se deslumbrar com situações, momentos ou cargos – tudo isso é e pode ser tão passageiro, além de tudo. Mas acho que eu estava enganada. Há sim algo mais feio: a perda do encantamento que nos move pra frente!
Até onde vai a ética no branding?
As marcas saudáveis são saudáveis?! Sou uma entusiasta do bem-estar e do autocuidado, da beleza limpa e da suplementação como ferramenta de saúde. Assisto, animada, ao crescimento destes mercados no mundo todo. Mas tá no ponto limite da gente questionar quais os limites entre um posicionamento e a ética/verdade por trás dele. Na semana passada, rolou em São Paulo a Natural Tech: foi assustador ver que a maior feira de produtos naturais tem – uma maioria de – estandes com produtos nem tão naturais assim...
Uma das minhas fontes confiáveis favoritas é a Joana Calmon, que hoje está por trás da Tartiner, uma marca de pastinhas (realmente) sem açúcar. Claro que deve ser revoltante para ela também sob a perspectiva da concorrência desleal, mas a Joana que traz dados para os leigos é sobretudo uma jornalista séria, experiente, didática e estudiosa. Os destaques de seus stories são parada obrigatória para quem tem mínimo interesse no tema – e a patrulha do rótulo não é só uma "patrulha", é um serviço de utilidade pública neste mercado que lucra muito em cima de desejos e expectativas em volta do que vemos como saúde hoje.
Tudo bem comer açúcar e afins, o lance é comer (e, pior, pagar $$$) sem saber o que está comendo. O marketing embrulha qualquer coisa e nem sempre é usado só com boas intenções. Se nem na feira de "produtos naturais" temos o predomínio de produtos naturais, como confiar na indústria de alimentos? É aquela velha história, muitas vezes é melhor ir de Kinder Bueno. Vai ser mais barato e, se bobear, até mais "limpo" do que muitas marketices wellness..
p.s. 1 este não é um post patrocinado pelo fabricante de Kinder Bueno!
p.s. 2 sigam pessoas com senso crítico, sem amarras comerciais e disposição para exposição de assuntos polêmicos; só a informação nos protege.
p.s. 3 influencers, cuidado com a corresponsabilidade do que vocês anunciam; pesquisem, busquem detalhes, consultem.
AMPLIFIQUE: a gente sobe puxando outro(s)!
No mundo competitivo que se hoje espalha pelos ambientes offline e online, muitas vezes o apoio genuíno fica esquecido. Mas, na vida e nos negócios, vejo cada vez mais a importância do coletivo. A foto que ilustra a notinha é de uma noite deliciosa a convite da
e da Sari Stad, especialista em networking de maneira natural e orgânica. O registro une uma dúzia de mulheres dos mais diferentes perfis em torno da literatura e também de uma troca genuína. Sari, vale dizer, montou um grupo de conexões na pandemia e vê isto acontecer espontaneamente entre as mulheres que uniu.A gente não precisa participar oficialmente de um grupo de networking para isto: amplifique pessoas, formatos, ideias. Dê crédito a suas inspirações, a quem te ensina. Apoie, divulgue, recomende. Dia destes, uma pessoa que conheci por conta da internet uma década e meia atrás me contou que fui a primeira assinante da sua (ainda não divulgada) newsletter, depois de ter sido a primeira a comentar no blog dela em 2008. Eu gosto de apoiar mulheres.
Não sou santa e tenho certeza que deixo a desejar pra muita gente – quando sinto-me em uma via de mão única ou quando me chateio com algum comportamento que não achei legal, posso recuar. Mas amo apresentar pessoas, já dei um empurrãozinho em inícios de carreiras, empregos e sociedades, me disponho a ajudar quem eu conheço com qualquer conhecimento que eu tenha. Divido fontes, curto publis, deixo os comentários de apoio que eu gostaria de receber, tento ser presente em (quase) todas as news que assino. E acredito que – por mais que genuinamente faça sem esperar reciprocidade (até porque muitas vezes ela não é mesmo direta, toma-lá-dá-cá) – é por isto que recebo tanto da vida e das pessoas. Você está dando aquilo que pede?
Em tempo: nos dois eventos em que estive nesta semana, nem toquei no celular e raras pessoas os compartilharam nas redes, o que nem de longe significa desfeita a anfitriãs (como poderia sugerir o padrão dos últimos tempos). Ao contrário, estávamos presentes demais para sair dali, ainda que por poucos minutos, e entrar em nossas telas.
"Estou organizando este evento para preencher meu desejo de uma noite em que as pessoas possam se conectar com comida deliciosa, em um ambiente sem pressão e sem telefone, em um belo cenário ao ar livre. (Telefones serão recolhidos na porta!)" – li na e adorei!
O futuro dos podcasts no presente do jornalismo
Uma revista semestral impressa sobre podcasts. No estilo de tiragem limitada em edição para colecionadores. Esta é a proposta da Good Tape, que nos traz um indicativo de que o sucesso desta mídia – que explodiu de verdade apenas nos últimos anos – está apenas começando. Em entrevista para o The Verge, o editor da publicação (uma mistura de jornalismo e crítica cultural) analisou o status atual do jornalismo e como ele impacta os modelos de negócios.
O formato, digamos, inesperado para sua revista (uma revista física cobrindo uma mídia essencialmente online?) tem razão de ser: "Nossos hábitos de consumo digital deixaram as gerações mais jovens cansadas e sobrecarregadas. Como nossas vidas são cada vez mais mediadas por interações digitais, há algo restaurador em se envolver com mídia física e tecnologias analógicas. (...) Não achamos que a Good Tape poderia se destacar como um boletim ou podcast". Mas o holofote é mesmo para a ferramenta e suas inúmeras possibilidades, bem além dos formatos mais populares e dos criadores mais conhecidos.
O texto aponta que a falta de espaço para podcasts na mídia tradicional – uma consequência da própria quebra de tantos veículos, cujos modelos de negócios falharam, e da "competição" com o material produzido por influenciadores – deixa muitos assuntos deste universo fora do radar:
"Os leitores estão perdendo histórias que descrevem o ofício, a arte e o sustento de criadores por trás de nossos programas favoritos. Tendemos a focar nos talentos mais conhecidos, enquanto desconsideramos escritores, editores, produtores, engenheiros e compositores que fazem esses projetos (...). Eu adoraria dar uma plataforma para essas histórias que não vemos representadas na grande mídia." Dane Cardiel, Good Tape
Mas e o Spotify?
A matéria ainda comenta o recente corte nos gastos com podcasts no Spotify, que você deve ter visto especialmente em manchetes de fofocas sobre o fim do programa de Harry & Meghan – mas vão bem além disto. Segundo o texto, ainda que tenha chegado ao momento de cortar gastos, a plataforma segue buscando criadores e comercializando suas ferramentas internas. E que indicativos de uma nova contratação para ser a voz da marca Spotify for Podcasters fortalecem que ainda há esforços na empresa neste quesito.
Seu filho precisa de tédio!
Uma vez, quando MH tinha acabado de fazer dois anos, escrevi um texto no meu blog da época (hoje to só a nostalgia, né?!) com uma reflexão sobre "somos pais ou somos G.O.s?" (G.O.s = aqueles animadores de pique interminável do Club Med). E desde lá sou uma defensora do ócio para crianças. O tema foi pauta do NY Times nesta semana, cuja matéria relembra pais de que o tédio é bom para seus filhos.
Nesta geração cada vez mais conectada e cercada de opções, pode ser fácil preencher qualquer momento desocupado com uma distração. Bem mais fácil e óbvio do que era na minha geração X, com uma infância bem distante da perspectiva de conexão online e com cardápio muito menos restrito e acessível de atividades extracurriculares. Mas ainda assim, como pais, devemos insistir. O texto de Catherine Pearson pontua que "o tédio é uma emoção – normal, natural e saudável".
Entre as razões pelas quais os especialistas expõem a teoria, estão os fatos de que o tédio é informativo ("como uma luz indicadora no painel de um carro aponta que a tarefa que você está realizando é muito fácil ou muito difícil"); pode levar à realização (“Ser capaz de identificar e desenvolver fontes de significado é uma habilidade realmente crítica para se ter ao longo da vida”) e abre espaço para descobertas. Para crianças menores, o ponto de partida é oferecer um "menu específico de caça ao tédio" – com perguntas como "Você quer brincar com Legos? Você quer brincar com Play-Doh? Você quer ir lá fora?". Já para os mais velhos, a ideia é sugerir "Dê uma volta pela casa, tenha três ideias e me responda".
A matéria encerra relembrando que "faz todo o sentido que crianças peçam telas quando estão entediadas, mas isso não significa, obviamente, que seja o melhor para elas nessa situação"; ao passar de um estado de tédio para uma ação positiva, os pequenos são levados a “abrir a criatividade, a resolução de problemas e todos os tipos de habilidades de aprendizado acadêmico”.
Post scriptum: nos vemos no Zoom?!
O link para o Zoom sobre Substack deste sábado disponível abaixo para assinantes de todos os planos pagos – mensais, anuais e superassinantes. O replay ficará no ar por uma semana a partir de domingo (25.06).