♡ A beleza de abrir mão e deixar algo ir
Nosso cérebro parece treinado a resistir ao novo; nossos sensos de justiça e merecimento levam frequentemente a embates; nossos medos e incertezas pautam muitas de nossas escolhas – até onde insistir?
Vou começar com um exemplo pra lá de clichê... Você certamente já deve ter lido/ouvido aquela história de pegar um punhado de areia em uma só mão e tentar segurá-lo. Quanto mais você aperta, o que acontece? Pois é, a areia vai escapando entre os dedos. É assim com a areia, é assim com a vida, é assim com tudo que não é mais para ser seu.
Logo no começo do livro "Comer, Rezar, Amar", Liz Gilbert narra a história real de quando seu ex-marido se recusava a assinar o divórcio e exigia, além de todos os bens que construíram juntos, uma parte dos royalties de seu trabalho como escritora. Liz concluiu que a briga judicial seria muito mais longa, cara e dolorosa – cedeu a tudo. E ainda assim ele resistiu a assinar (há quem deseje muito mais batalhas do que soluções, faz parte da vida). A autora entregou. Seus bens, seus lucros mas, mais ainda, seu controle. Foi só quando deixou tudo isto ir que conseguiu por o ponto final na tumultuada relação.
Mesmo aquilo que parece ser 100% nosso por merecimento, lógica ou justiça (caso dos royalties do trabalho de Liz) pode não ser. E abrir mão de pessoas, trabalhos, situações, momentos, (ilusões de) controle é o fator crucial para poder ter paz, seguir em frente, começar novos capítulos. Não adianta a gente achar pode apertar entre os dedos algo que na verdade é transitório. A liberdade de abrir mão é de uma beleza que, muitas vezes, na ansiedade de manter ou prolongar, só conseguimos perceber depois que encerramos um ciclo.
Somos programamos para resistir a mudanças, a encerramentos. Somos educados para ficar no ambiente conhecido. Somos acostumados a viver no conforto imaginário do que nasceu assim, cresceu assim e "vai ser sempre assim", tal e qual a música de Gabriela. Mas quem é que disse que existe aquele que vai caminhar sempre no modo mais linear e previsível da vida?
O que eu queria contar especificamente para você, que está lendo esta mensagem e encarando-a como uma resposta pessoal e intransferível a sua dúvida, é que apertar a areia entre os dedos é apenas exaustivo e NADA eficiente. Que aumenta sua ansiedade, que causa estresse, que apenas adia a decisão inevitável.
Claro que falo com todo o cuidado do mundo e que não acho que tudo pode ser encerrado para todos no momento presente. Mudar é, antes de tudo, um privilégio em muitos aspectos. Mas existem pessoas que podem e não fazem; existem diferentes tipos de fins de ciclo; existem múltiplos sinônimos para o tal "deixar ir"…
Um exemplo prático? Sou filha de uma escorpiana com ascendente em escorpião, que tem praticamente uma lista mental de todo mundo que fez algo ruim pra ela (ou pra mim!) nos últimos 40 anos. Eu caí no outro extremo: em questão de meses, há 90% de chance de eu não lembrar nem o nome da pessoa, muito menos o que ela me fez. Apago mesmo. Deixo ir e em paz!
Se o foco é saúde mental – e creio que sempre deveria ser –, assine acordos pouco justos como o da Liz; apenas esqueça de pessoas de quem queria se vingar; e, sobretudo, permita-se encerrar tudo aquilo que até a vida já te permitiu por o ponto final.
Lindo texto, Alê!!! A leitura fluiu muito fácil, porém, ao mesmo tempo, me permitiu refletir a cerca de várias coisas e de algumas pessoas que eu preciso deixar ir para que o novo possa chegar na minha vida. :)
Maravilhoso Alê!!! 👌💕