♡ Será que somos mesmo atóxicos?
Maid, série do Netflix baseada no best-seller homônimo, trouxe à pauta os relacionamentos tóxicos e os abusos emocionais. E este é um tema que, de alguma forma, é parte de todos nós.
Vira e mexe circula uma imagem nas redes sociais que diz algo como “tudo volta, isso te assusta ou te conforta?”. Até hoje, nunca vi ninguém responder a primeira opção, ainda que eu já tenha visto a frase sendo postada por algumas das pessoas mais assustadoras que conheci. Se todo mundo fica à espera da lei do carma para ter conforto, quem é que fez mal a todas estas pessoas e por que ela nunca teve perfil em nenhuma mídia da internet?
Assim que Maid – a série de roteiro brilhante que está entre as mais assistidas da Netflix atualmente – veio à pauta, muito tem se falado sobre relacionamentos tóxicos e, em especial, sobre as mulheres que sofrem abusos físicos, emocionais, patrimoniais e psicológicos. Tem sido mais comum (ainda bem!) ver estas mulheres reconhecendo e ganhando forças para lutar contra suas vulnerabilidades. Por mais difícil que seja falar abertamente deste tema, é quase habitual ler relatos de quem esteve na ponta mais fraca. E não, não falo apenas dos casos de abusos em relacionamentos amorosos, pois a própria série mostra como eles vêm também de pais, amigos, familiares, chefes e até desconhecidos…
É daí que nasce, então, uma equação curiosa. Muita gente sofre abusos de pessoas tóxicas, mas é raríssimo encontrar alguém que se veja no papel da abusadora. Na própria série em questão, vale dizer, um mesmo personagem poderia ser visto como salvador da pátria ou abusador, dependendo do capítulo que você assiste no momento. Será mesmo que somos sempre uma coisa só?
A análise de quem somos pode (e provavelmente deve mesmo!) variar muito de acordo com quem está fazendo a narrativa. E nem sempre somos santos ou tóxicos de verdade, tudo é apenas uma questão da perspectiva de quem está contando. Somos humanos. Temos gatilhos que podem detonar o melhor – ou o pior – de nós. Olhar constantemente para si é a base para aquela ótima expressão figurada “eu me enxergo”!
Todo mundo sente-se confortado ao saber que tudo volta (será que deveríamos mesmo ter todo este otimismo?), mas nossa humanidade é imperfeita: já fomos o chefe, o amigo, a namorada, a filha ou o sócio para quem o post do “tudo volta” foi dedicado em pensamento. Toxicidade não é só o extremo pelo qual passa Alex, a personagem que é vítima de marido alcoólatra, mãe borderline ou pai omisso. Há muitas, muitas nuances até lá.
Apenas esta autoconsciência autêntica nos serve como primeiro passo para estarmos sempre mais vigilantes e empáticos. E, só assim, poderemos de fato percorrer a estrada para sermos tão atóxicos como esperamos ser.
p.s. este texto marca a estreia da Textões da Ale, nova seção da Amo News na qual vou compartilhar crônicas variadas sobre temas diversos e reflexões pessoais. Para diferenciar este conteúdo das newsletters de posicionamento e tendências, o título sempre terá este ♡. Se você quiser optar por receber também esta newsletter bônus em seu e-mail, acesse sua conta de assinante Amo News clicando neste link e marque a opção.
Muita boa a sua reflexão sobre essa série, Alê, me trouxe outros ângulos para refletir sobre a mesma. Abraços