Eu estou vivendo da minha newsletter...
... mas este está longe de ser um texto dizendo que dá pra viver da escrita de um dia pro outro – meu projeto de 18 meses precisou de 18 anos para acontecer!
Fico furiosa toda vez que vejo um post patrocinado de algum guru no insta dizendo que ele te ajuda em três aulas a "ganhar seis dígitos em sete dias" - ou qualquer uma dessas combinações mentirosas de dígitos. Sinto vontade de sacudir quem pega pessoas na máxima vulnerabilidade financeira e as leva a fazer (mais) uma dívida com a garantia de seguidores, faturamentos e afins.
Já há algum tempo, parei de falar de números próprios porque entendi que eles mais atrapalham (maldita e injusta comparação) do que ajudam, inspirando e mostrando que existe a possibilidade. E sempre morro de medo de dividir qualquer coisa sobre meu processo e ficar minimamente parecida com os piramideiros dos "cursos sobre cursos" que conhecemos tão bem na pandemia.
Neste 30 de abril, completo 18 meses de newsletter como negócio. Em dado momento do percurso, (me) coloquei uma ousada meta financeira x para este dia e batizei-a de meta Emma Gannon, uma das minhas musas inspiradoras nesta plataforma. Faltando poucos dias, bati minha meta. Eu competia comigo mesma, a mais desafiadora competidora que tenho. E fiquei feliz de agradar a esta competidora tão exigente.
Dito tudo isto, eu não posso dizer que bati minha meta Emma Gannon em 18 meses. Seria no mínimo injusto – e, na realidade, mentiroso – ignorar que levei 18 ANOS para chegar nestes tais 18 meses. Os dias de estudo, os empregos nos quais chorava no banheiro, os medos & riscos nas mudanças de rota, as perdas monetárias por conta de ideais específicos e, principalmente, as noites no teclado estão neste combão da realização.
Se eu simplesmente colocasse meu gráfico de faturamento e fizesse um título clickbait sugerindo que qual-quer pessoa, em qualquer estágio, consegue ler o meu texto e replicar a meta dos 18 meses eu seria, mais do que irresponsável, mentirosa.
Sim, a newsletter hoje é meu "salário"; os produtos que dela nasceram (encontros de conteúdo e palestras corporativas) são meus bônus semestrais. Sim, eu bati minha meta Emma Gannon em 18 meses. Mas eu posso lembrar de quase todos os dias dos 18 anos que antecederam este ano e meio. E também de todos os privilégios que me permitiram avançar casinha por casinha nestas quase duas décadas de trabalho na internet.
Em resumo, esta não é uma edição para falar de faturamento, marcos e conquistas pessoais. É um texto para falar de PACIÊNCIA, virtude tão rara nestes tempos doidos e acelerados que vivemos. Porque, antes de "viver de newsletter", eu encarei anos de empregos de gente grande e muitos jobs que pagam boletos... e, no fundo, é assim que a gente constrói o lastro para ter resultado em qualquer coisa.
O mercado profissional está mais diverso. Está?!
Não tenho o hábito de postar no Linkedin, mas quase diariamente passeio pela rede de olho nas tendências do mercado corporativo. E, post após post, entendo que a proliferação de discursos em torno do tema ESG (empresas com uma gestão preocupada com aspectos sustentáveis, sociais e governamentais) segue a premissa de "na prática, a teoria é outra". Infelizmente.
Não adianta colocar um diretor de ESG se no dia a dia o emprego PCD anunciado não existe; se as fotos dos times de bancos mostram os mesmos perfis. Não adianta vermos negócios good vibes comandados por pessoas com passado recente de liderança extremamente tóxica (mudaram em uma década? jamais saberemos!). As propostas indecentes brotam por todos os lados, do corporativo aos freelancers. Mulheres de 30 "podem engravidar a qualquer momento"; mulheres de 40 precisam se ausentar para levar filhos pequenos ao pediatra; mulheres de 50 estão.... velhas para o mercado. Quando as mulheres serão vistas por suas competências antes de por suas idades?
As gerações anteriores tendem a colocar tudo na conta do "mimimi" (odeio este termo) da geração Z, mas estariam mesmo eles sempre errados em suas reclamações ou o tal do ESG é só um tema instagramável para palestras idealistas?
Olho no olho, o melhor amigo da marca
Na era em que tudo e todos parecem girar em torno da ideia de escalar e atingir milhões, trabalhando em uma linha de produção como a do filme Tempos Modernos, o portal Glossy aponta a tendência do "um a um" como a melhor amiga de uma marca. O contraponto vem da comparação entre as marcas de luxo – que desde sempre trabalham desta forma – e o boom do e-commerce e da tecnologia, fatores que aumentaram a distância entre negócios e consumidores.
Pense no sucesso dos grupos de Whatsapp e Instagrams fechados das vendedoras de marcas de moda feminina, que mantêm uma espécie de acompanhamento dos hábitos de consumo de suas clientes. Nos eventos especiais oferecidos para os mais fiéis. No poder de ouvir o comprador, melhor consultor e RP que ma empresa pode ter. Em caso citado na matéria do Glossy, um diretor da Zegna conta que – além dos desfiles convencionais – a marca tem focado em atendimentos individuais agendados para apresentar suas novas coleções. E o texto é categórico em afirmar que as etiquetas premium que não utilizam estas estratégias humanizadas estão perdendo muitas vendas, pois o potencial qualitativo é deixado de lado quando o varejo foca apenas em números.
A estratégia serve apenas para quem tem tickets médios de muitos dígitos? O consultor Loughlin Joseph garante que "mesmo marcas que não estão na categoria luxo se beneficiam muito investindo na proximidade com a clientela". Entra aí o poder do treinamento de uma equipe acolhedora e eficiente, que conhece comprador e produto como a palma da mão. E muitas vezes não se faz necessário um sistema super tecnológico, já que muitos ainda mantêm o controle no tradicional papel e caneta. A interação humana, seja pessoalmente ou por telefone, ainda se mantém em alta no contexto do bom serviço. A comunicação individualizada supera até a estratégia de varejo, pois um cliente fidelizado é algo pra lá de valioso para se investir.
Para profissionais liberais e marcas pequenas/médias, fecho ainda com uma frase que ouvi da relações públicas americana Kelly Cutrone: "você nunca é bem-sucedido demais para fazer aquela tarefa que te deu o seu sucesso".
A medicina, a internet, as massas e as polêmicas
Na última semana, virou polêmica nas redes uma entrevista da modelo Isabella Fiorentino contando que não usa filtro solar. Cultura do cancelamento à parte, existem muitas camadas de tendência por trás disto. Quanto maior o alcance, maior a responsabilidade. Uma voz ampla chega a pessoas sem acesso aos mesmos cuidados e a mesma interpretação. Porque a verdade é que mal (quase) tudo faz de alguma forma, mas cada um precisa – mais e mais – medir os seus próprios riscos e beneficios, exercitando seu poder de (auto)questionamento.
É chover no molhado dizer que apesar da nossa farinha ser pior e os raios UV serem maiores do que os do tempo de nossos avós estamos vivendo mais. Não por causa deles, mas apesar deles, por conta da medicina 2.0 e seus avançadíssimos tratamentos. Mas, no fundo, nossa mente precisa estar preparada para a medicina 3.0, pregada pelo médico americano Peter Attia: a que adia (ou, quem sabe, evita) ao máximo a necessidade dos tratamentos e traz mais vida aos anos que viveremos a mais. O que seu corpo (ou sua pele) precisa pode até variar caso a caso, mas a busca pela informação e o filtro de curadoria são e sempre serão fundamentais.
Em tempo: no tema saúde e longevidade, duas dicas de livros que comecei a ler nesta semana – A Revolução dos Músculos e Uma Vida Bem Vivida.
Amamos eventos pequenos!
E por falar em olho no olho.... Na última quarta feira, aconteceu em São Paulo mais uma edição do Amo Insiders, a "versão presencial da Amo News" – desta vez com a estreia do tema Conteúdo como Negócio. Láááá atrás, nos posts mais antigos da news, já falamos sobre a tendência dos eventos em grupos menores (estávamos em um grupo de 36 mulheres) como um desejo pós-pandêmico. O que posso dizer é que, nestes casos, a troca e as relações são tão valiosas como o conteúdo em si – e não, não é casual o subtítulo "encontros de conteúdo e networking" com o qual batizei o evento. A era do palco cada vez mais dá lugar a era da conversa e da reunião de pessoas em torno de um mesmo tema de interesse. E isto serve para para eventos livres e também para marcas. Quando cada consumidor sente-se único de alguma forma, você tende a conquistar um público mais fiel, mais alinhado a suas propostas e mais disposto a investir no seu produto, seja ele físico ou não.
obs. A próxima edição do Amo Insiders #2, Conteúdo como Negócio, acontece em 25 de maio em São Paulo e as inscrições já estão abertas. Uma versão estendida do Amo Insiders chega no 2º semestre ao Rio, em breve compartilho mais detalhes por aqui!
Post scriptum: Plano Substackers no ar
No embalo do texto de abertura, conto aqui sobre o pequeno grupo para o qual resolvi abrir meu caderno e minhas experiências usando esta plataforma profissionalmente. Mesmo com demanda, sempre adiei, pelo autoboicote do medo de parecer mais uma daquelas – das fórmulas, das receitas, dos cursos sobre cursos das pirâmides. Mas se eu tenho um conhecimento (construído por muito estudo, muito mesmo) e outra pessoa vê utilidade neste conhecimento, se eu posso dividir minhas fontes e meu caderninho de forma honesta e sem promessas inventadas, a troca é justa, o trabalho é ético e o resultado é válido!
Não me prolongarei mais, todos os detalhes estão no link Plano Substackers, e se for um conteúdo que casa com este seu momento, vou adorar te receber neste projeto, cujo 1º grupo está quase completo. As inscrições vão até terça-feira (30.04) ou até atingir o limite máximo de participantes.
obs. obrigada a todos que de alguma forma – assinando, fazendo upgrade, curtindo e comentando – fizeram e fazem parte deste projeto que tanto amo construir!
Ale, quando vc falou do atendimento um a um, me lembrei da série sobre a vida do Balenciaga e o horror que ele sentiu quando conheceu a produção prêt-à-porter. Já viu?
Ai Ale, que incrível! Parabéns pela conquista!!